Si è svolta ieri, domenica 4 settembre 2016, alla Feira do Livro di Porto, la presentazione del libro “O funeral de Neruda”, di Renzo Sicco e Luis Sepulveda, tradotto in portoghese da António Sabler.
L’attore Rui Spranger, invitato dalla Casa Editrice Apuro Ediçoes, ha moderato l’evento, accompagnato nelle letture dall’attore Renato Filipe Cardoso.
La presentazione ha avuto luogo nella biblioteca Almeida Garrett all’interno del Palácio de Cristal in una sala gremita di gente emozionata. Grande soddisfazione dell’editore e di uno dei due Autori, Renzo Sicco, presente in sala.
Materiale informativo in lingua portoghese
Qui di seguito riportiamo la prefazione in lingua portoghese del libro, scritta da Eduardo Leal e qualche foto dell’evento.
Quarenta anos depois da morte do poeta, importará realmente saber se foi o tumor que o devorava por dentro ou o tumor que o consumia por fora, nesses dias depoisda morte de Allende, quem verdadeiramente o matou?
Uma morte inútil, se acreditarmos na tese do assassinato, porque pode matar-se um homem, pode destruir-seum sonho, condenar um país inteiro, um povo, à mais ignóbil ditadura, ao mais cruel dos regimes, mas calar um poeta, não.
Sobretudo um poeta que cante a solidariedade e o humanismo como Pablo Neruda cantava. Através dele,
por causa dele, dos poemas que nos deixou, a esperanca num homem novo e melhor, a inabalável confiança na capacidade de amar resistiu aos muitos anos da ditadura chílena, espalhou a mensagem de inconformismo, alimentou as sementes do futuro.
Em Portugal, em abril de 74, na primavera seguinte à terrível primavera chilena, em setembro de 73, os cravos vermelhos souberam a renascimento. No Chile, o exército derrubara uma jovem democracía. Em Portugal, o exército derrubava uma velha ditadura.
Os portugueses, inebriados ainda pelo gosto da recém-chegada liberdade, colocaram cravos na ponta das
espingardas e saíram à rua em defesa dos presos políticos do chile fascista. Lembrámos Vítor ]ara, lembrámos Neruda como representantes de todos os que sucumbiram nos días de terror que se seguiram a esse fatidico onze de setembro.
Gritámos contra as mais de 4o.ooo mortes pelo odio, pela intolerância (e fala-se hoje de mais de 1oo.ooo) e não podíamos imaginar que esse ódío resistiria mais de 17 anos com o apoio e o sílêncio de tantas democracias.
Neruda sabia bem do que se tratava. Tè-lo-á dito nas suas últímas horas: “estes matam”. Sabia porque correra o mundo. Lutara em Espanha contra o fascismo de Franco. Assistira ao silêncio inicial da europa perante os avanços da barbarie nazi, conhecia os excessos da América latina.
Mesmo sendo um bomem de poemas de amor – porque a sua poesia é sobretudo ternura – sabia da força das canções desesperadas. Acreditava no homem, num mundo melbor, mas conhecia os caminhos que cruzam os que destroem os sonhos mais puros.
Se importa saber como morreu?
Se importa saber se o mataram?
Que não haja dúvidas. Um homem assim morre um pouco cada vez que a natureza humana se revela contra a natureza humana.
Como ele, o carrasco já morreu também. Ao contrário dele, sem honra nem gloria. A memória, a nossa consciência coletíva, há de continuar à procura de sentidos.
A memoria faz-se dos avanços e recuos dos ideais de Liberdade. Os interesses mesquinhos, a globalização dos mercados, a lógica da sociedade de consumo, podem adiar o sonho, podem fazer tombar homens como Neruda e Lorca, mas não podem matar o amor. Não podem acabar com a esperança.
Saber como morreu Neruda não corrige o passado – a história nao se reescreve – não nos restitui o homem. Mas, sem dúvida, ajuda a identificar os carrascos, ajuda a lutar contra o medo. Ajuda a lutar por um mundo melhor.
É a luz que precisamos sobre os factos dessa primavera negra, para que não restem dúvidas, para que o mundo saiba: mataram o poeta!