Gianpaolo Ormezzano é um dos jornalistas históricos mais importante de Itália.
Na sua longa carreira conheceu os mais importantes futebolistas, ciclistas e atletas internacionais e participou em 24 edições dos Jogos Olímpicos. (Um recorde mundial também isso)
Foi o único jornalista reconhecido pela NASA para, durante a missão Apolo 11, fazer a cobertura do mais importante “salto” dado pela humanidade.
Estabelecendo-se que
- Quase todos ficamos contentes pelo sucesso de Portugal no campeonato europeu porque a) alguém que era considerado “pequeno” venceu alguém “grande” e isso é sempre coisa boa e justa e bonita para ver, desde os tempos deDavi e Golias até hoje; b) o futebol lusitano estava à espera disso, desses curiosos acidentes que povoam o jogo mais estúpido e mais maravilhoso do mundo, acabando de deitar fora misteriosamente uma final fácil em casa contra a pequeníssima Grécia (2004); c) todos ou quase todos amamos a França por motivos de cultura, liberdade, amor, comida, vinho, literatura e Edith Piaf, somos poucos os que amamos os franceses com consciência disso e por isso muitas vezes os consideramos convencidos e marotos (pelo contrario quase todos amamos, isso está fácil, os portugueses pobres que, entre homens e mulheres, em Paris e outros no resto da França, trabalham de porteiros, recolhem lixo, são empregados de mesa, pintores de casa, pedreiros, agricultores…
- O resultado final, 1 – 0 atingido no tempo extra, foi perfeitamente regular, deixando de lado os dois tiros às barras da baliza, um por cada equipa.
- Nomês da final, Portugal só venceu num jogo em sete, na semifinal contra País de Gales, 2 – 0 dentro do tempo regulamentar, de resto teve que esperar para o tempo extra e os penáltis, isso dá para perceber o grande esforço que os portugueses tiveram que fazer para afirmar o valor da equipa que realmente era ligeiramente maior do que a dos outros.
- Tal vez o jogo tenha sido um torneio europeu tecnicamente pobre, com demasiadas equipas por causa da fórmula com 24 finalistas, mas com certeza tem sido um torneio muito longo e dificultoso pelo clima meteorológico e político (as tensões relacionadas ao terrorismo)
podemos propor e ao mesmo tempo afirmar a tese, talvez só nossa, pela qual o acidente ao minuto 8 do jogo que obrigou a sair o português Cristiano Ronaldo, ou seja o maior jogador do mundo após a condenação do Lionel Messi, foi considerado um bom negócio.
E de fato
1) O jogo da França tornou-se provavelmente num jogo feito com sentimentos de culpa, pelo que a acção do Payet sobre o campeão tem sido considerada uma entrada killer, ou num jogo que parecia ficar a dever algo a alguém: o fato é que houveram umas acções psicológicas bem pouco eficientes por parte dos jogadores franceses
2) Com certeza os espectadores e o mesmo árbitro sentiram essas posições psicológicas, por isso o fator-campo foi reduzido ao mínimo, também graças ao suporte da torcida dos não poucos portugueses presentes, povo rebelde àquela que de qualquer maneira pareceu uma injustiça
3) Portugal jogou excelentemente, consciente dos próprios limites mas mesmo assim com muita inteligência, mostrando um jogo imposto pela situação, quer dizer com uma fortíssima dedicação sem nenhuma espera exasperada pela acção mágica do campeão e envolvendo toda a equipa na direcção da bola e nas passagens, mais uma vez sem a exasperação na procura do campeão que saiu logo do jogo.
4) A falta do Cristiano Ronaldo deixou a equipa portuguesa sem um ponto de referencia, o que inicialmente fez com que os jogadores franceses pensassem que o jogo a seguir ia ser muito mais fácil ou simples, sem o perigo representado pelo campeão adversário.
5)Solicitados para dar o máximo, os jogadores portugueses deram mesmo tudo, um “máximo” talvez inesperado mas sem deixar de ser espectacular, e alguém “usou” esta ocasião para inventar, naquele mesmo lugar, uma personalidade própria melhor daquela que já tinha, também ousando o impossível (o tiro do Eder pelo 1 – 0 decisivo)
6 Cristiano Ronaldo, fora do jogo pelo acidente físico, levantou-se psicologicamente e também visivelmente, com aquela agitação inicialmente desde o banco e mais logo no campo, além do regulamento, enfurecendo positivamente a equipa e negativamente a adversária
Após essa exposição, a qual precisa obviamente duma contraprova, é isto o bom do futebol, grande jogo misterioso que admite, ou melhor, puxa para si o debate infinito, o “tudo” e o contrário desse tudo que afinal não é o nada.
Mas alem disso, quem se importa? O que interessa é que quem ganhou, foi Portugal
Gianpaolo Ormezzano