Se a morte de Neruda foi natural ou provocada por envenenamento, provavelmente, sabê-lo-emos nos próximos meses através das análises, elaborada por uma equipa de técnicos internacionais, aos restos mortais do poeta.
A história é que o funeral de Neruda ocorreu poucos dias após o Golpe de 73 e reagrupou, apesar do recolher obrigatório, uma enorme multidão. Sem apelos, com o simples passa-palavra, transformou-se na única manifestação em massa desses dias contra o emergente regime ditatorial, num ato de amor pelo cantor da língua e da cultura latino-americana. O texto do espetáculo escrito por Luís Sepúlveda e Renzo Sicco reune e conta estes acontecimentos.
A sua representação teatral no Chile em dezembro de 2008 na Isla Negra, a casa em que Pablo e Matilde viveram os seus últimos dias juntos, foi a ocasião que fez despertar em Manuel Araya, o motorista de Neruda, um pensamento profundamente encerrado durante 30 anos de silencio: a suspeita de que as coisas na Clínica Santa Maria, em Santiago do Chile, o hospital onde o Poeta foi internado, não tenham acontecido como o certificado pelos médicos.
Esta historia onde o teatro encontra a realidade até levar a despertar dúvidas e verdades, está contida no novo livro da Apuro Edições.
“O Funeral de Neruda”, de Luís Sepúlveda e Renzo Sicco na Feira do Livro do Porto
A Apuro Edições que estará presente na Feira do Livro do Porto no Stand “Alternativas e Independentes” vai lançar no dia 04 às 18h na Biblioteca Almeida Garrett, um livro que, acredita, será um dos acontecimentos da Feira – “O Funeral de Neruda” de Luís Sepúlveda e Renzo Sicco, com a presença já garantida deste último.
“O Funeral de Neruda” é um texto dramático que foi levado a cena originalmente nas casas que foram habitadas por Pablo Neruda. Mas aquele que foi um espectáculo marcante transcendeu em muito a sua dimensão teatral. É que entre os espectadores estava Manuel Araya, motorista, secretário e guarda-costas de Neruda. Tocado pelo espectáculo e pelo facto de ter sido feito por uma companhia estrangeira – A Assemblea Teatro de Turim (Itália) – decide, alguns dias depois contactar o encenador e co-autor da peça Renzo Sicco, declarando que sabe coisas muito importantes nunca antes contadas. Renzo Sicco desloca-se então ao Chile e mediante os relatos feitos por Manuel Araya, decide contactar o importante jornalista italiano Gabriele Romagnoli que parte também para o Chile e publica posteriormente a entrevista feita a Araya na revista Vanity Fair.
Este acontecimento levou então à exumação do corpo de Neruda pelas fortes suspeitas de este ter sido assassinado pelo mortífero regime de Pinochet. As análises feitas na altura determinaram o cancro que afectava Neruda como a causa da morte. Mas o governo era de direita e a dúvida manteve-se. Recentemente, novas análises, já com um governo de esquerda, afirmam que Neruda foi assassinado. Anulam-se ambas, portanto. Fica talvez a afirmação feita por Araya durante a entrevista publicada também no livro que a Apuro agora edita: “Levarei esta dúvida comigo até ao fim dos meus dias. Mas todos deveriam ter esta dúvida.”
Poucos dias depois do Golpe Militar, o Funeral de Neruda foi o único momento de manifestação de revolta pública durante os 17 anos da ditadura chilena.
Escrito magistralmente por Luís Sepúlveda e Renzo Sicco, este livro não é só uma grande obra da literatura, mas também um documento histórico, prefaciado por Fernando Sáez, director executivo da Fundação Pablo Neruda que assim descreve os efeitos do espectáculo levado à cena pela companhia de Renzo Sicco na casa da Isla Negra, onde o poeta viveu os seus últimos dias: “Esse é o notável valor desta encenação, recapitular os factos, instalá-los na história, fazê-los presentes a quem os desconhece e envolver com uma emoção incontrolável aqueles para os quais esses anos negros se mantém tão vivos”.
Sobre os autores:
Luís Sepúlveda é escritor, jornalista, cenógrafo, encenador e artista chileno naturalizado francês. Vive actualmente em Espanha, em Gijon, nas Astúrias. Como escritor é conhecido pela sua vasta produção literária, entre a qual se destacam livros como “O velho que lia romances de amor”, “A rosa de Atacama” e “A história de uma gaivota e do gato que a ensinou a voar”.
Renzo Sicco é encenador e dramaturgo, produz eventos culturais desde 1971. É, desde 1989, presidente e director artístico da “Assemblea Teatro – Teatro Stabile di Innovazione”, de Turim, Itália, tendo escrito e encenado mais de 50 espectáculos para esta companhia.
Sobre a APURO:
A APURO é uma associação cultural e filantrópica sem fins lucrativos, fundada em 2012. Assume-se como uma sociedade particular de Solidariedade Cultural. Cultural porque toda a sua atividade se orienta para a cultura, quer na sua vertente produtiva (teatro, cinema poesia, edições…) quer na sua vertente social. Filantrópica porque pretende criar um sistema de apoio a intermitentes do espetáculo que se encontrem em carência efetiva de emprego e/ou saúde e com estes criar um sistema de voluntariado cultural junto de outros cidadãos carenciados através de parcerias com Instituições Particulares de Solidariedade Social e outras associações com fins semelhantes.
A APURO tem como característica ter sido fundada por uma maioria de cidadãos não ligados profissionalmente à cultura mas que se interessa e preocupa com este bem fundamental para a humanidade.
Contacto de imprensa APURO: Rui Paulino David
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